Sabe (tchurururu), tem situações da minha vida que eu realmente me gabo de ter vivido. A situação a seguir se passa em São Paulo, no ano de 2005, às 3 e poco da tarde.
Antes da Internet, durantes as férias, as pessoas costumavam viajar. Sério! Não é uma loucura???
Meu sobrinho Kaique e eu éramos dois bons amigos (agora não sou mais porque ele entrou no mundo das drogas e parece que lá tem hidro). Jogávamos bola descalço, empinávamos pipa, batíamos na bunda das garotas e saíamos correndo, virávamos a noite jogando Marvel x Capcom (Wolverine x Ryu x Capitão América, pode vir seus patos), algumas vezes elaboramos uma bomba de bosta (se ficarem interessados nessa dica, eu passo o tutorial), enfim, nós fomos crianças como qualquer outra criança.
Eu tenho algumas boas recordações da casa do Kaique (que morava com os avós). Lembro, por exemplo, da história que ele me contava sobre certa vez uma prima de terceiro grau foi a sua casa urinar e teve seu clitóris arrancado por um rato aquático (fiquei uma semana sem cagar direito), e sobre um amigo dele que morreu após cair de um telhado enquanto soltava uma pipa.
Como todo bom homem, eu tinha mais medo pelas minhas bolas sendo comidas por um rato aquático do que uma mísera quedinha de um telhado. Que engano.
Kaique mora e sempre morou na favela do Heliópolis em São Paulo. Se você não tem real dimensão disso, é tipo Hogwarts: Tem gente que mora há mais de 20 anos e ainda não conhece todos os cantos.
Eu nunca fui bom em soltar pipa. Sempre tentava o fazer mexer no ar balançando a mão, mas tinha certeza que as pessoas a minha volta achavam que eu estava dançando Stayin’ Alive dos Bee Gees. Tipo um flasmob. Mas eu tentava.
A laje do meu sobrinho Kaique tinha vista panorâmica pra toda favela. Era uma visão assim, privilegiada de merda. Decidimos então, subir até lá (com nossos coletes à prova de bala, né galera) e solta nosso tão querido PIPA.
- Marcos, sério! Meu amigo semana passada caiu de cabeça e morreu!!
- RSRSRS E CE ACHA QUE ISSO VAI ACONTECER COMIGO TAMBÉM?
- Sei lá, só fica esperto aê.
Quem nasce na favela, já tem uma ginga toda Prince of Persia pra escalar muros. Grande parte delas, pra fugir da polícia. Eu, obviamente, não.
- MARCOS, FICA DE OLHO NESSA TELHA AÍ QUE EU VOU DESCARREGAR A LINHA
- Relaxa, véi. Pó fica tranqui—-
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
AHHHHHHHHH
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
PLAFT ~ÇEALE~ÇALEAEAEA PAPAUAMAOAPA
Sabe a quinta temporada de Lost quando você não entende mais merda nenhuma e nem em que época você está? Essa é a sensação de cair de uma altura de nove metros e pouco de altura.
Completamente tonto e sem saber onde eu havia parado, tentei arranjar um apoio pra me levantar e encontro um pé (calma, não era humano) de uma cadeira?? Uns passos ao fundo me despertam a atenção.
- QUE QUE CÊ TÁ FAZENDO NA MINHA COZINHA MULEQUE???
- eu..eu…
- SAI DA MINHA COZINHA MULEQUE ANTES QUE EU VÁ BUSCAR O FACÃO!!!
Naquela altura do campeonato, alguém que ameaçasse buscar um facão pra me matar já me trazia essa imagem a cabeça:
E lá estava eu. Me rastejando para o corredor onde eu caí (sim, eu cai em um corredor e rolei até a cozinha, só não me pergunte como).
- ANDA MULEQUE DO CAPETA!! SAI DA MINHA CASA!!!
O sujeito não estava sozinho. Sua filha de uns oito anos veio acrescentar um chute nas minhas costelas com um grito: “É! SAI DAQUI SEU FEDIDO”. Tem xingamentos que a gente nunca esquece. Esse foi um deles =(
- CÊ VAI PAGAR O TELHADO, SEU BOSTA! QUEM CÊ PENSA QUE É PRA CAIR DENTRO DA MINHA CASA DESSE JEITO?
Quer dizer, se eu fosse da família dele e caísse dentro da casa dele, tava beleza. Afinal, pessoas caem no meio da casa dos outros diariamente.
Eu consegui sair da casa. A família do Kaique e minha mãe (que havia chegado exatamente na hora da queda) estavam me esperando do lado de fora, aposto que em uma pequena expectativa de ainda me ver vivo.
Meu pé estava sem firmeza, minha cabeça girando…
Menina Isabela, eu te entenderia…
VAMOS AO MÉDICO!!!!!!!!!
Só me lembro de ter acordado em uma cadeira de rodas, sentindo a minha cabeça enorme. Me senti o próprio Professor Xavier.
Como eu já disse em um post anterior, médicos são humoristas.
Na faculdade, grande parte deles já brincou de Amoeba com um fígado humano ou pegou nos peitos de uma defunta gostosa. Então, você não é nada mais que um Paciência Spider pra eles.
A MÁ NOTÍCIA É QUE VOCÊ TEM CÂNCER EM ESTADO TERMINAL E A BOA É QUE VOCÊ VAI GANHAR UM PIRULITO
A Saúde pública acha que todos nós somos espécies de Wolverine – com fator de cura, mas sem as garras, infelizmente – e nos deixam esperando lá, como se fosse pra gente pensar na merda que fez.
- Senhora, então, iremos fazer um Raio-X da cabeça dele rapidinho, no capricho, pra ver se ele não tem um coagulo, pois, olhe pra ele! Ele está com cara que teve um coagulo rs.
Não preciso dizer que esse foi o ponto inicial do desespero da minha mãe, que até àquela hora estava tão tranquila e conformada com a situação que eu achei que ela estava sendo controlada mentalmente por mim.
“Vai lá, fera! Te cuida, que agora acabou meu plantão e eu vou tomar meu cafézinho! Cuidado com o coagulo ein rsrssrs”
Minha capacidade de locomoção estava pior que a do Batman do Tim Burton. Sai do hospital da mesma forma que entrei e sem meus poderes mentais =(
Moral da História: não tive coágulo algum, parentes vieram me visitar, fiquei na cama uma semana, alguns parentes vieram me ver, tive que pagar o telhado da casa do Tio do Facão e agora vou ficar uma semana sem cagar direito por ter lembrado da história do Rato Aquático.
Merda.
0 comentários:
Postar um comentário